
Thiago Pacheco
Quem mora em Curitiba já nem nota mais: nas calçadas do centro da cidade, os círculos feitos de pinhões estilizados marcam o passo de gerações. Depois de cada obra em que precisem ser desfeitos, são reconstruídos por mãos hábeis de operários que conhecem o ofício – mas com alguma ajuda, propiciada por gabaritos.
O curioso é que este símbolo da capital – imortalizado em tatuagens, impresso em camisetas, adesivos, pôsteres, ímãs de geladeira, marca-páginas etc. – foi criado por um legítimo morretense: aliás, tão legítimo que fez incorporar a seu nome o da sua cidade natal.
Frederico Lange de Morretes nasceu Frederico Godofredo Lange, em 5 de maio de 1892. Filho de um engenheiro alemão, passou a infância na serra do mar, morando na famosa Casa Ypiranga, à beira da estrada de ferro, por força da ocupação do pai. Mais tarde, reconheceria a influência decisiva da paisagem sobre sua trajetória.
Lange começou a estudar pintura com Alfredo Andersen, e, ainda jovem, foi estudar arte na Alemanha, onde ficou por dez anos. Voltando a Curitiba, lecionou arte e anatomia. Mas, além de artista, Lange também estudou biologia, e é responsável pela catalogação de espécimes de molusco, tendo escrito diversos artigos a respeito do assunto. Sua contribuição à malacologia, aliás, é lembrada até os dias de hoje. Ao lado de João Turin e João Ghelfi, Lange fundou o paranismo, um movimento de busca de identidade nas artes e arquitetura que, é possível dizer, teve pleno êxito. Nossos olhos e nossos passos são testemunha.
E foi mesmo na pintura que Lange deixou sua marca maior, em retratos e, especialmente, paisagens. Poucos captaram e traduziram nossos panoramas quanto ele – que gostava tanto da vista do Marumby que pediu para ser enterrado de pé, de frente para a montanha. Teve seu desejo merecidamente atendido, e assim descansa na sua Morretes.
“A contribuição de Frederico Lange de Morretes para a malacologia brasileira”: https://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/147226
“Pensativo”, 1914.
“Guaratuba”, 1928.
“Nhundiaquara e Pico Marumby”, 1934.