
Thiago Pacheco
O massacre de Waco, como ficou conhecido este terrível episódio, ocupou manchetes e noticiários no começo dos anos 90 – mesmo aqui, no Brasil, tão distante do estado americano do Texas, e em uma época em que a internet ainda nem existia. As imagens de um prédio em chamas, de forças policiais usando veículos blindados, e a notícia de um grande morticínio eram difíceis de ser compreendidas: não se estava enfrentando uma fação criminosa nem um grupo terrorista, mas uma seita conhecida como “Ramo Davidiano”. Seu líder, David Koresh, professava ser um messias sucessor de Jesus Cristo, e criou a comunidade religiosa na localidade texana de Waco. Lá, viviam famílias que veneravam Koresh como um profeta, e aguardavam o iminente apocalipse anunciado por ele.
Suspeitando que os religiosos estivessem estocando armas ilegais no complexo (chamado pelos residentes de “Monte Carmelo”), o FBI, a ATF (agência de fiscalização de armas de fogo) e a polícia estadual obtêm mandados judiciais para invadir o local, fiscalizá-lo e apreender o armamento eventualmente encontrado. No entanto, os moradores não aceitam o cumprimento da ordem, que entendem como uma agressão à sua liberdade religiosa. O impasse dura dias, e o resultado final é desastroso: a invasão das forças de segurança terminou com a morte de 76 residentes, entre os quais 28 crianças, e a destruição do complexo em um incêndio. Qual a explicação para tão cruento resultado?
Essa explicação é o que a série “O Massacre de Waco: As Consequências” (“Waco: The Aftermath, 2023) pretende apresentar, a partir da reconstituição do julgamento de membros sobreviventes do “Ramo Davidiano”. Disponível no serviço de streaming Amazon Prime, a série é uma espécie de continuação de “Waco”, produzida em 2019 e que retrata diretamente o cerco a Mount Carmel. Por meio de retrospectos feitos enquanto o julgamento dos sobreviventes avança, os advogados de defesa conseguem demonstrar, aos poucos, como as forças de segurança se precipitaram e muito provavelmente deram causa ao desastroso resultado – embora os Davidianos estivessem, sim, bastante bem armados.
O triste episódio acendeu o debate público sobre as garantias constitucionais dos EUA, como a posse de armas e o direito à liberdade religiosa, e também sobre o abuso de poder pelos agentes de segurança. Com o tempo, cresceu a percepção de que os religiosos estivessem apenas se protegendo de uma agressão injusta e desproporcional, embora a discussão persista até hoje. A recriação do julgamento dos Davidianos revisita esta controvérsia com alguns detalhes que só podem ser conhecidos no processo judicial – mas o veredito final é deixado ao espectador.


